O requinte merengue contra os guerreiros de Simeone

Os miolos de cada equipa analisados ao pormenor


Lisboa é a última paragem do futebol europeu em 2013/2014. E nada melhor para fechar esta época do que uma final entre os dois gigantes de Madrid. Uma batalha em pleno Estádio da Luz que, desde há muito tempo, vem aguçando o interesse de milhões de fãs do futebol.

E se muitas vezes neste desporto a justiça falha, importa referir que nesta edição da Liga Milionária estão, na final, aqueles que foram mais regulares e mais fortes durante todo o percurso. O Real Madrid perdeu apenas um jogo nos 12 realizados (em Dortmund por 2-0) e o Atlético está invicto desde o início da competição (se vencer no sábado será a 7ª equipa a conquistar o troféu sem derrotas).

Todos estes dados são importantes e mostram a potência e a qualidade destes clubes mas o que quero mesmo é destacar o trabalho dos médios destas equipas. Os trabalhadores quase invisíveis que fazem brilhar Ronaldo, Diego Costa, Bale, Benzema, Villa e que também são importantíssimos no processo defensivo.

O croata foi pedra essencial no esquema de Ancelotti.
Foto: CarlosChamorro/flickr
Começo pelo lado “merengue”. Com a contrariedade da grave lesão de Khedira, no início da época, rapidamente se percebeu que Modric iria ser titular. Muitas dúvidas se levantaram sobre a capacidade de se impor na equipa blanca depois de uma primeira temporada abaixo das expectativas. Foram quase 40 milhões gastos no croata que pareciam estar perdidos. O certo é que Modric foi talvez o jogador mais subvalorizado do Real Madrid na época passada, mas este ano disse “presente”, justificando todo o dinheiro gasto. Nunca tive dúvidas da sua qualidade e que jogando na posição certa seria essencial na manobra dos “merengues”. Este ano, agarrou o lugar, pegou na batuta, fez o Real jogar e encantou o Bernabeu. Se Ozil muita falta fez, Modric foi suprindo essa falta, mesmo jogando mais atrás no terreno. A bola sai sempre dos seus pés com destino definido e os “buracos” que faz na defesa com os seus passes sãoe uma classe extrema.

Ao seu lado teve, a partir de determinado momento da época, Di Maria. Foi quando se juntaram no miolo que o Real praticou o melhor futebol. O argentino foi o coração do meio-campo enquanto Modric era o cérebro. O ex-Benfica foi incansável e para cumprir esta posição de forma tão brilhante, beneficiou do sistema de jogo que aprendeu com Jorge Jesus no Benfica (um losango em que Di Maria era o vértice esquerdo). O treinador português conseguiu pôr Angelito a defender, com muita qualidade, e até na seleção já ocupa esta posição.

O médio que completa o trio é o senhor Xabi Alonso, um pensador nato e que une a equipa como poucos no mundo fazem. Na final, Xabi não estará por castigo (que maldade para os fãs do futebol) e Ilarramendi será o provável substituto. O jovem espanhol tem cumprido o seu papel e foi titular em muitos jogos desta época. Já está bem rotinado com o argentino e o croata.

Do outro lado está o meio-campo mais intenso do futebol mundial. A capacidade de pressão imposta pelos homens de Simeone e a capacidade de entrega ao jogo é impressionante. Normalmente num sistema tático de 4-4-2, o Atleti apresenta uma linha intermediária com Tiago, Gabi, Koke e Arda Turan. Dos quatro, Arda é o pensador, é o falso 10 que equipa tem e que Simeone consegue aproveitar na perfeição. O turco ajuda muitos os companheiros no processo defensivo, fechando o lado direito, e no momento de saída em transição ofensiva, a sua qualidade vem ao de cima com passes e progressões com bola fabulosas. Villa e Diego Costa agradecem lá na frente.

Diego Costa tem beneficiado muito da intensidade
 que o seu meio-campo coloca no jogo.
Foto: muladarnews/flickr
Depois, 3 médios de combate. Koke é o jogador que fecha o lado esquerdo e por ali raramente passa perigo. É ainda um menino e apesar de estar já num nível muio elevado, têm ainda uma enorme margem de progressão. Dotado de uma excelente capacidade de passe é muito importante no momento das transições. É um médio que aparece muitas vezes na área adversária e, por isso, faz alguns golos. Já faturou ao Real esta época. Entrega-se ao jogo de uma maneira única e disputa cada lance como se fosse o último. Raramente perde uma disputa de bola. É um guerreiro dentro do relvado.

Gabi e Tiago são os patrões desta equipa no campo e os homens da confiança de Simeone. Tiago é como o vinho do Porto, quanto mais velho melhor. Aos 33 anos, aparece em grande forma, está perto de vencer a sua primeira Champions, com a motivação de ser na sua segunda casa. O português é o homem que liga os sectores do Atleti e é o elemento que se encontra mais perto da defesa. Na retina de todos estão as duas últimas exibições frente ao Barcelona em que Messi nada fez, muito por culpa de Tiago. Gabi, o capitão, é senhor de uma alma incrível, que tal como Koke, luta como se não houvesse amanhã. Uma delícia vê-lo jogar depois de tantas épocas esquecido e a jogar em equipas de nível mais baixo.

Os colchoneros têm ainda no banco Suaréz e Raul Garcia, que são opções muitas vezes utilizadas por “El Cholo”, e que quando estão em campo cumprem precisamente o que os colegas habituais titulares fazem. O Atlético leva ao extremo o significado da palavra “equipa” e isso torna-os muito mais fortes. Só assim venceram La Liga em pleno Camp Nou e estão a um passo da sua primeira Champions.

Dois miolos do melhor que há, um de guerra e outro mais refinado, que tudo farão para continuar a servir os seus avançados e assim tentarem erguer o tão desejado troféu. Uma bonita batalha no relvado da Luz que, no sábado, ninguém quererá perder.