Os balões de oxigénio de Paulo Fonseca que asfixiaram o Porto

A temporada 2013/2014 ficará na história do Porto como uma das páginas mais negras.
Depois da conquista do bicampeonato frente ao eterno rival, no célebre minuto 92 de Kelvin, a moral estava em alta para os lados do Dragão. A conquista da Supertaça, logo a abrir, motivou ainda mais a família portista.

O Benfica estava mal e o Sporting, no início da época, não parecia ameaça. Por isso, os Dragões, bicampeões nacionais, apresentavam-se como os mais fortes candidatos ao título. Paulo Fonseca era o sucessor de Vítor Pereira e parecia escolha certa de Pinto da Costa. O ex-Paços de Ferreira vinha cheio de ideias e desde logo inverteu o triângulo do meio-campo, que já era prata da casa. Fernando passou a jogar com um homem ao seu lado (Herrera, Josué, Defour e, posteriormente, Carlos Eduardo) com Lucho bem perto de Jackson. Ora, este Porto não encantava e estava longe de ter a posse de bola que tinha com Vítor Pereira mas ganhava e isso era o importante. Nas primeiras 8 jornadas, o Porto apenas somou um empate (com o Estoril), contando por vitórias todos os outros jogos. Mas é neste ponto que tudo muda!

A inversão do triângulo foi o inicio de uma morte lenta.
Foto: DR
O Porto, depois desta série, vai a Belém empatar, recebe o Nacional e volta a ceder depois pontos e na deslocação seguinte a Coimbra tem a primeira derrota. A partir daqui tudo foi posto em causa. Há ainda a agravante chamada “competições europeias”. Num grupo teoricamente acessível, o Porto não vence nenhum jogo em casa e apenas ganha em Viena. Naturalmente é eliminado da Champions, caindo na Liga Europa.

Paulo Fonseca começou a ser contestado e o descontentamento reinava na Invicta. Os dias seguintes à derrota em Coimbra foram negros mas a vitória caseira frente ao Braga, com o descobrimento de Carlos Eduardo foram uma bomba de oxigénio para o jovem treinador. Os dragões mantinham-se na luta e no fim da primeira volta iam à Luz em igualdade pontual com os dois rivais. O resultado não foi o desejado (derrota por 2-0) contudo a motivação de receber os encarnados na última jornada mantinham aberta a rota do título. A acrescentar a essa fé, o regresso de Quaresma, o Harry Potter, que prometia magia e mais qualidade nas alas portistas órfãs de talento desde a saída de James, foi mais um balão de oxigénio para Paulo Fonseca.

Apesar dessa esperança, muita coisa não ia bem no reino do Dragão. Lucho sai porque diz já “não se sentir bem” e Otamendi é vendido, regressando Abdoulaye que estava emprestado ao Vitória. A defesa que não era tão sólida como no passado, como é marca no Porto, torna-se ainda mais débil. O bicampeão quebrou ainda mais e não demorou muito a voltar perder pontos novamente – derrota na Madeira por 1-0 e no Dragão com o Estoril também por 1-0 (última derrota em casa tinha sido a 25 de Outubro de 2008 com o Leixões).

O desaire com o Estoril jogou-se a meio da eliminatória com o Eintracht Frankfurt para a Liga Europa. Na 1ª mão, o Porto esteve a vencer por 2-0 mas deixou-se empatar a 2 bolas, e teria de ir decidir na Alemanha. Nesse jogo, Paulo Fonseca recebeu novo balão de oxigénio. Os dragões perdiam por 2-0, chegaram ao empate, voltaram a estar em desvantagem mas ainda houve forças para ir buscar o 3-3 que dava a passagem. Ghilas foi herói!

Este oxigénio alemão escapou-se logo de seguida em Guimarães. O Porto entrou bem, fez 2-0 mas não conseguiu segurar a vantagem e empatou 2-2. E aqui é o fim de linha de Paulo Fonseca e do triângulo invertido.

Luís Castro assumiu e o Porto mudou. Os “azuis e brancos” eliminaram o Nápoles com duas exibições que surpreenderam, venceram na 1ª mão das “meias” da Taça de Portugal o Benfica e pareciam motivados em acabar a época com troféus. O título era difícil, quase mesmo impossível. Conquistar Liga Europa, Taça de Portugal e Taça da Liga seria já muito positivo.

Tudo parecia encaminhado até ao jogo da 2ª mão dos “quartos” da Liga Europa. O 4-1 em Sevilha ponha o Porto fora da competição com uma exibição desastrosa. Uma semana depois, na 2ª mão das “meias” da Taça, o filme continuou. O Porto entrou a perder na Luz, o que significava o empate na eliminatória. Ainda na 1ªparte, Siqueira é expulso, aumentando assim as possibilidades do Porto. A abrir a 2ª parte, Varela faz o empate e já ninguém acreditava que o Benfica com menos 1 homem desse a volta. Incrivelmente foi isso que aconteceu! Enzo, de penáltie, atemorizou o Porto e André Gomes deu a facada final.

Depois disto, apenas mais um episódio: Taça da Liga! A história repetiu-se, Benfica com menos um homem durante quase todo o jogo e o Porto não consegue fazer um golo que acabe com a eliminatória. Os encarnados vencem na decisão por grandes penalidades.

O Porto fechava assim uma época para não repetir, onde poucas foram as coisas positivas, num plantel mal estruturado desde início, sem laterais que pudessem substituir os titulares (Fucile praticamente não contou), com excesso de médios-centro, onde nunca se percebeu quem era a aposta mais forte e sem alas de qualidade (Varela era muito pouco). No meio disto tudo, brilhava e ainda brilha um diamante: Quintero.

O jovem médio colombiano não engana, é craque! Foto: DR 
A bola com ele sorri e respira futebol! Com ele em campo, os companheiros sabem a quem entregar para organizar jogo e sabem que está ali alguém que pode resolver os problemas do coletivo, como várias vezes fez. E se percebo que a juventude e a irreverência não lhe permitem ainda ser perfeito taticamente, perdoem-me que diga que este jogador não se pode cansar a defender tanto como os outros, é demasiado artista para isso. Com o amadurecimento perceberá qual a melhor forma de ajudar nos movimentos defensivos e assim tornar-se mais completo. Para já deixem-no ser rebelde e com essa rebeldia, ajudar a sua equipa e deliciar os adeptos. Para finalizar o assunto Quintero, questionar porque é que num sistema de Paulo Fonseca, com um “10” assumido, o jovem colombiano raramente foi opção. Estranho, no mínimo.


A próxima época só pode ser melhor para o Porto e eu tenho a esperança de ver Quintero espalhar magia nos relvados de Portugal. Os craques têm é que jogar!