Nuno Espírito Santo: Uma aventura em Valencia

O Valencia começou uma nova era em 2014 com a chegada de Peter Lim e do seu amigo Jorge Mendes. Com o empresário português é sabido que quase tudo é possível e juntando o dinheiro do investigador de Singapura, o clube Che aspira a um regresso ao topo do futebol espanhol. Saudoso início de século onde se jogava para títulos e se ombreava com Real e Barça...

Este está a ser o ano 0 e os sinais são bem positivos, com resultados a puderem superar o esperado, caso o Valencia termina no terceiro lugar, à frente do Atlético de Madrid, atual campeão espanhol. Uma época que começou com muitas incertezas no plantel e com um clima de suspeita sob o treinador. Jorge Mendes e Lim escolheram Nuno Espírito Santo, para surpresa geral, que só tinha treinado o Rio Ave, alcançando duas finais de taça, ambas perdidas para o Benfica. Um bom trabalho do ex-guarda-redes, mas seria suficiente esta amostra para este salto?


Nuno Espírito Santo, a revelação
A imprensa e os críticos foram unânimes em avaliar esta escolha como um erro e uma sondagem de pré-época deu mesmo Nuno como o mais votado para ser o primeiro técnico a ser despedido. Engano geral! Rapidamente Nuno e o Valencia arrebataram a crítica e mostraram que tudo se tratou de um julgamento precipitado. Os ches iniciaram o campeonato de forma convincente e só na oitava jornada conheceram o sabor da derrota na Corunha. Pelo caminho empataram em Sevilha (terreno onde ainda ninguém ganhou) e bateram o Atleti por 3-1. A forma agressiva de jogar, fazendo pressão no campo todo e a saída em contragolpe como um dos trunfos ganhou muitos jogos e impressionou toda gente, até os próprios adeptos que começaram a encher o Mestalla, fazendo do seu reduto uma fortaleza. Até agora só o Barcelona lá venceu num golo que surgiu aos 93’.

O mérito tem que ser dado a Nuno pela forma como geriu tanto negativismo à sua volta e como construiu um plantel, com tantas saídas. As incertezas quer nas chegadas quer nas saídas foram muitos, por isso só com o decorrer do campeonato foi definindo o onze-base, mas isso não influenciou o bom rendimento inicial. Negredo só chegou mesmo no fim do período de transferências e veio lesionado, Enzo Perez foi incerteza até final e acabou só por vir em Janeiro, Mustafi chegou tarde e por isso Nuno agarrou-se aos que tinha.

André Gomes foi o patrão na primeira metade da época e depois de uma fase de menos fulgor (coincidiu com uma lesão e a chegada de Enzo) volta agora a ser protagonista. Que grande primeira parte fez, esta semana, em Camp Nou!

Otamendi é a base da defesa e depois de Ruben Vezo ter correspondido inicialmente, Mustafi fixou-se e forma com o argentino o eixo da segunda melhor defesa de La Liga. Gaya é o homem do flanco esquerdo e uma das figuras (associado já a grandes clubes) e Barragán tem cumprido à direita. No miolo, o português faz-se acompanhar de Parejo e Javi Fuego, sendo que Enzo veio complicar as contas e tirou ora André Gomes ora Fuego do onze.

Na frente a rotatividade é maior. Rodrigo faz qualquer posição, mas normalmente atua na linha, o que lhe retira grande parte das suas qualidades. Não é ali que ele rende, pode ser útil para a equipa, mas para o hispano-brasileiro é prejudicial. Que saudades deve ter do 442 de Jorge Jesus. Feghouli, Piatti vão também alternando num dos flancos. 
Parejo é neste momento o melhor marcador da equipa

No ponto mais adiantado do terreno, Paco Alcácer e Negredo vão alternando. O primeiro iniciou a época com grande fulgor, chegando até à seleção espanhola, mas a recuperação do homem emprestado pelo Man. City complicou as contas e retirou minutos de jogo ao jovem e consequentemente golos. Importa referir que o clube espanhol dispensou Jonas no início da época, tendo este depois assinado pelo Benfica. Não teria Jonas espaço neste plantel? O nome de Negredo pesou. Certo é que o avançado das águias tem mais golos, esta época, que a soma dos tentos de Negredo, Rodrigo e Alcácer, em todas as competições. Agradece Jorge Jesus…

Por falar em dispensas, João Pereira não teria lugar neste plantel? Quais as divergências com o treinador? Importa frisar que o internacional português (agora no Hannover) era um dos capitães na época anterior e um dos mais respeitados pelos adeptos. E quer queiramos quer não, era melhor que Barragán. Mas Nuno decidiu assim e os resultados dão lhe razão.

Neste momento a equipa ocupa o 4º lugar, a 4 pontos do terceiro posto que daria lugar a entrada direta na Champions, ocupado pelo Atleti. O Sevilha segue na perseguição com menos 2 pontos e esta luta entre o 3º e o 5º posto será até final.

A solidez defensiva é a grande arma dos comandados por Espírito Santo e só o líder Barça tem menos golos sofridos. Apenas um aspeto negativo a tirar desta estatística, 10 dos 25 golos encaixados ocorreram nos últimos 15 minutos das partidas, e outros 7, no mesmo período da primeira parte. O que se passa, Nuno? Falta de concentração, mera estatística, ou a equipa fisicamente cai devido à elevada pressão e intensidade que impõe no jogo desde o apito inicial?

Uma marca defensiva interessante é consolidada ainda pelo número de derrotas. Só o mesmo Barça tem menos (4 contra 5), sendo que duas delas surgem no confronto direto entre a turma Che e os Blaugranas. Corunha, Levante e Málaga foram os outros felizardos.

São 3 os portugueses deste plantel: André Gomes, Ruben Vezo e João Cancelo
Na sua fortaleza só mesmo o Barcelona conseguiu quebrar a invencibilidade. Cederam também dois empates, um com o Real Madrid e outro com o Vilarreal. A nível ofensivo, tem o 5º melhor registo, com 56 golos, apenas 4 marcados de penálti.

Para o ano inicial desta aposta, os indicadores são positivos e tudo pode culminar num regresso à Champions League, que será mais atrativo para chamar mais jogadores para este projeto. Teremos um Valencia a lutar pelo título dentro de poucos anos? Será que podem repetir o feito do Atlético e destronar as duas maiores potências?

Este ano houve quem sonhasse com isso, o tempo encarregou-se de provar o contrário. Mas provou também que existe muito potencial e margem para evolução. Os outros que se cuidem!

Para já fica uma vénia a Nuno pelo excelente trabalho, silenciando a crítica e provando a qualidade dos técnicos portugueses. Haverá melhores?